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Mulher, negra e premiada pelo trabalho no serviço público

Atualizado: 27 de nov. de 2020

Por Rithyele Dantas

Sandra Conceição é uma mulher negra de 52 anos, funcionária pública, ingressou ainda muito jovem no setor, aos 24 anos. O serviço público foi um vetor para o crescimento profissional e acadêmico: após seu ingresso, Sandra, que tinha apenas o ensino fundamental, também resolveu cursar o ensino médio e, posteriormente, a graduação em pedagogia. A primeira iniciativa na qual atuou, lá em 1992, foi o Projeto Favela na cidade de São Paulo. O projeto auxiliava mulheres mães de periferia a chegarem no mercado de trabalho.


"Foi Deus quem mandou o serviço público pra minha vida. Aqui, a gente precisa se propor a fazer as coisas o tempo todo, mesmo que deem errado, precisamos de coragem." Disse Sandra no início de nossa conversa.

A profissional pública é especialista em pedagogia hospitalar pela PUC-SP e é uma das fundadoras da Fundação Poder Jovem, a primeira casa de acolhimento para jovens vivendo com HIV/Aids. Por conta da COVID-19 o setor em que Sandra trabalha foi desativado e, durante a pandemia, ela está na linha de frente fazendo acolhimento das famílias vítimas de COVID junto as UTIs, desde às visitas, aos óbitos.


Essa doença é muito egoísta. Ela te priva da liberdade, de estar ao lado de quem se ama. Quando veio a proposta para acolher as famílias vítimas de COVID eu me ofereci elaborei o fluxo. Tivemos êxito até aqui! O sentimento é de tristeza, reflexão, aprendizado e gratidão." Desabafa Sandra

Republica.org: Atuando na saúde pública, como tem visto a importância do SUS neste momento?


Sandra Conceição: Se não tivéssemos o SUS nesta pandemia estaríamos vivendo uma tragédia maior. Ele é primordial! Eu que trabalhei com jovens vivendo com HIV/Aids sei da importância do sistema. Todo mundo nessa situação têm o tratamento completo pelo SUS. Imagina perder isso? Sandra também tem uma conquista muito importante: em 2019 foi ganhadora do Prêmio Espírito Público, iniciativa que reconhece trajetórias inspiradoras de profissionais públicos brasileiros.





Republica.org: Como foi ter recebido um prêmio pela sua atuação e trajetória no setor público?


SC: Foi maior reconhecimento da minha vida, ainda há muito preconceito contra quem é servidor público. Quando me inscrevi, estava desacreditada, mas quando fui colocar no papel tudo o que já desenvolvi nem eu acreditei. Com a minha vitória, muitos ficaram felizes, mas também pude perceber o preconceito e o racismo em muitos outros. Cheguei a ouvir que tinha ganhado porque sou negra. E essa não foi a primeira vez que sofri racismo no setor público. Lá atrás, quando chegava com as minhas ideias, já até ouvi "O que essa neguinha tá pensado?" Disfarçada de brincadeira, frases como essa já me atingiram.


Republica.org: Onde estão os negros no serviço público?

SC: Tenho muitos amigos negros por aqui. Mesmo desenvolvendo projetos inovadores, o servidor público tem dificuldade de ser reconhecido. Se o reconhecimento do nosso trabalho é difícil, imagina sendo negro nesse país?


Republica.org: Dada a falta de pessoas negras na alta gestão do setor público, como você acredita que podemos mudar essa realidade?

SC: Hoje vemos muitos jovens negros na universidade, conquistando espaços, acredito na necessidade do plano de carreira como política pública. Faltam oportunidades para nós, pra que a gente entre e cresça no setor público. Já ouvi que negros não tem perfil pra gestão: e quem tem esse perfil? Quem determina? Quero muito que cada vez mais negros cheguem no serviço público, mas pra isso também precisamos fortalecer quem já está dentro, precisamos de reconhecimento e queremos ser inspiração pra quem ainda vai chegar.


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